Incentivos à Migração

Conceito/Definições

A migração modal (modal shift) é a substituição do uso de um modo de transporte por outro. Embora seja algo bastante desejado para a melhoria da qualidade urbana, trata-se de um processo complexo e muitas vezes difícil de implementar, pois envolve aspectos como a percepção do usuário sobre os modos de transporte e a visão sobre mobilidade dos agentes públicos, responsáveis por promover campanhas e políticas públicas. Certamente, entender como o cidadão se desloca e principalmente o que o leva a tomar a decisão sobre qual modal utilizar é fundamental para fomentar novos usos, especialmente se considerados fatores que estão para além da qualidade em si dos serviços prestados, como questões econômicas, o tempo de deslocamento, a segurança e a satisfação que a mudança pode gerar.

Discussão

O setor de transportes é um dos principais emissores de gases poluentes, agravando o problema ambiental das mudanças climáticas. Além disso, os automóveis costumam ocupar grandes áreas de espaço público na forma de vias de circulação e estacionamentos, sendo assim menos democráticos. Com isso, diversos países têm articulado estratégias de penalização do usuário do transporte motorizado individual, trabalhando-as como medidas de cunho econômico e fiscal para estimular o uso dos micromodais com baixa emissão de carbono e do transporte coletivo. Entre as medidas que incentivam o uso da micromobilidade e do transporte público estão os subsídios ou incentivos financeiros a infraestrutura e serviços, ou os certificados de baixa emissão de carbono (BARCZAK; DUARTE, 2012).

Na cidade de São Paulo, com o crescimento do uso dos micromodais, foi iniciado um projeto de lei que pretende regulamentar os “serviços de micromobilidade” na capital após uma série de conflitos decorrentes da implementação com pouca regulação. Segundo a prefeitura, os novos modais promovem a sustentabilidade da cidade e permitem desafogar o trânsito e reduzir a emissão de poluentes.

Melhores práticas

Diversas cidades vêm fazendo esforços para melhorar o acesso e a conveniência de viagens multimodais, aprimorando a integração entre os sistemas micromodais e o transporte público. Uma das iniciativas é o sistema Ecobici, de Buenos Aires, onde a possibilidade do uso de micromodais integrado com outros meios de transporte público coletivo levou a população a assimilar a micromobilidade como extensão do transporte coletivo. O Ecobici é subsidiado pela prefeitura de Buenos Aires, tornando o sistema gratuito para os usuários. Outro ponto fundamental para o fomento ao uso dos micromodais foi a integração da forma de pagamento através do MiBA card, um cartão que permite organizar diversos aspectos da vida cotidiana dos residentes dessa cidade.

Sistema Ecobici que permite o uso do MiBA CARD em Buenos Aires (Argentina). Fonte

No caso da migração modal brasileira, a Tembici, cujo principal patrocinador é o banco Itaú, tem como foco viabilizar novas formas de deslocamento urbano através do patrocínio ao sistema ofertado pela prefeitura e operado pela empresa. Os sistemas de bicicletas compartilhadas adotados em grandes cidades do país e geridos pela empresa contam com apoio dos patrocinadores, que, por exemplo, fazem projetos de inserção de bicicletários e paraciclos nas cidades atendidas como forma de fomentar a micromobilidade para além do seu próprio sistema com estações próprias. Isso permite que outros ciclistas usem as instalações com conforto e segurança para suas próprias bicicletas, o que acaba se tornando um instrumento de promoção do uso do modal.

Bicicletário da Estação iBike anexa ao metrô Paraíso, em São Paulo. Fonte

Outro exemplo é a cidade de Fortaleza, cujo sistema de bicicletas compartilhadas apresenta como opção a locação  por até 14 horas, relativas ao pernoite do veículo em locais com poucas estações. Com isso, objetiva-se permitir que a população realize deslocamentos mais longos nos finais das áreas atendidas, condizentes com a realidade local. Além disso, o uso desse sistema é facilitado através de aplicativo próprio e também do bilhete único da cidade. Essa facilidade de pagamento com o bilhete único promove a micromobilidade porque permite que pessoas sem cartão de crédito também a utilizem. Esse modelo está em consonância com o momento em que a OMS recomenda a bicicleta como principal modal de transporte no mundo pós-pandemia, levando diversos países a investir na micromobilidade, dado que esta representa alternativas mais ecológicas e solidárias.

Adaptação do tempo de uso do sistema de bicicleta compartilhada Bicicletar de Fortaleza (Ceará). Fonte

Indicadores/métricas de melhores práticas

  • Economia financeira. As melhores práticas de fomento à migração modal indicam que a economia financeira está muito ligada à teoria da utilidade, ou seja, a migração modal tem que se mostrar útil em vários aspectos, sobretudo o financeiro (HEINEN, 2010). Dessa forma, um bom indicador são os subsídios ao uso do transporte público associados ao uso de micromodais.
  • Redução no tempo de viagem. A otimização da jornada é um bom indicador para fomentar o uso dos micromodais.
  • Facilidade de uso e segurança dos sistemas. Equipamentos de fácil manejo, com regras claras, boa sinalização, infraestrutura adequada e outros sistemas de segurança são bons indicadores para incrementar o uso da micromobilidade.

Subdimensões

Guia Micromobilidade Compartilhada

Este relatório apresenta uma investigação completa sobre o panorama da micromobilidade pública no Brasil e no exterior. Trata-se de um trabalho de suma importância para gestores públicos e privados, e por se tratar de um trabalho sem paralelos no país, se torna uma referência nacional na conceituação e levantamento do quadro da micromobilidade.

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