Definições

Micromobilidade

Micromobilidade é tido como uma nova forma de organizar os deslocamentos cotidianos. O prefixo “micro-” (pequeno), associado a “mobilidade”, denota “transporte mínimo”. O termo designa um fenômeno de mobilidade abrangente, que diz respeito a trajetos urbanos realizados em velocidades baixas, geralmente mediados por equipamentos leves e fáceis de operar, tais como bicicletas, skates e patinetes, que podem ser elétricos ou não.

O termo surgiu em 2017, quando Horace Dediu, empresário e autor do artigo  “A definição da micromobilidade”, o apresentou no congresso TechFestival. Nos anos seguintes, esse conceito tornou-se bastante discutido por conta do rápido crescimento de sistemas de locação de bicicletas e patinetes motorizadas, sobretudo nas cidades estadunidenses. Em pouco tempo, passou a ser largamente utilizado tanto na indústria quanto na academia. Apesar desse uso recorrente, a expressão ainda necessita de um refinamento e há diversas discussões e críticas sobre a sua definição. Este guia propõe definições e ponderações à luz do debate internacional e da realidade do país para o uso mais apropriado deste conceito no contexto brasileiro.

Peso e dimensão

Peso e dimensão

A micromobilidade deve ser cumprida com equipamentos mecânicos, motorizados ou não, que não sejam de grandes dimensões e tenham até 500 kg de peso, ou seja, “que não ultrapasse[m] 5 vezes o peso médio de um ser humano” (DEDIU, 2019, s/p). Embora o peso seja uma dimensão definidora de equipamento leve, não há consenso em relação ao peso máximo do equipamento.

Propulsão

Propulsão

O deslocamento pode ser ativo (energia provida pelo próprio passageiro, como andar a pé ou de bicicleta) ou ter uma motorização sustentável, por exemplo a motorização elétrica. Exclui-se da micromobilidade a motorização por combustão, comum nos veículos automotores (ZARIF; PANKRATZ; KELMAN, 2019).

Alcance

Alcance

A velocidade e o tamanho do equipamento permitem percorrer pequenas e médias distâncias, sendo os sistemas mais robustos mais apropriados para grandes distâncias.

Velocidade

Velocidade

A velocidade máxima dos equipamentos de micromobilidade deve ser limitada. Na literatura, há referências de velocidade máxima entre 20 e 30 milhas por hora (algo entre 37 km/h e 45 km/h), sendo 50 km/h o limite na maior parte das cidades europeias.

Flexibilidade

Flexibilidade

Diversos autores descrevem a micromobilidade como “uma alternativa emergente e poderosa para compor o mix de transportes” (GRANAT, 2020). Os sistemas de micromobilidade, especialmente os de compartilhamento público, permitem a realização de viagens a um custo baixo e com grande economia de tempo.

Velocidade

Tecnologia

Equipamentos de micromobilidade têm a possibilidade e facilidade de adição de novas tecnologias, tanto de motorização e controle do equipamento como de supervisão e locação, através de plataformas e aplicativos. Isso permite que as cidades passem por uma grande e rápida transformação, através da inclusão destes equipamentos na paisagem urbana a partir da facilitação do deslocamento de pessoas em curtas e médias distâncias.

Flexibilidade

Compartilhamento

A possibilidade de compartilhamento dos equipamentos, sobretudo em sistemas públicos de locação, permite que as pessoas adicionem a micromobilidade com grande flexibilidade na sua jornada, em adição aos sistemas mais robustos de transporte público ou mesmo de automóveis. Além disso, os equipamentos de micromobilidade tornam-se mais adequados a centralidades e locais de maior adensamento.

Sistema público compartilhado

A ideia de compartilhamento de bens tem ganhado força no mundo todo. A chamada “economia de compartilhamento” (crowd economy) trata-se do comércio de bens e serviços que compartilham equipamentos dispostos no meio ambiente urbano para uso coletivo, através de tecnologias de informação. Esse setor da economia criativa traz benefícios econômicos e sociais. No Brasil, o compartilhamento de bens e serviços pode ser observado com frequência – bicicletas, veículos, eletrodomésticos, equipamentos, mobiliário, residências, transporte e entregas, educação, limpeza e manutenção etc.

Uma das ideias centrais do compartilhamento é conectar as partes interessadas, ou seja, os usuários e usuárias dos sistemas de micromobilidade, aos equipamentos de maneira fácil, rápida, barata e sustentável. Isso permite um uso mais racional da infraestrutura urbana, tais como ruas, calçadas e sistemas de transporte.

Os sistemas públicos de compartilhamento de serviços, sobretudo os de mobilidade, têm como pano de fundo o interesse do Estado em melhorar o cenário geral da mobilidade urbana de determinados lugares através do compartilhamento. Uma das características principais dos sistemas de compartilhamento público é a integração com a malha de transporte público existente, o que facilita a intermodalidade dos sistemas de micromobilidade com opções mais robustas, de maior velocidade, que atingem maiores distâncias.

Modelos de operação

A observação das experiências com os sistemas compartilhados de micromobilidade permite identificar três tipos de sistemas, associados a modelos distintos de operação:

Sistemas com estações físicas

Sistemas centrados na definição de pontos físicos para o compartilhamento de veículos (bicicletas e patinetes), conhecidos como estações. A capacidade dessas estações é predeterminada em relação ao número de veículos e vagas disponíveis. Retira-se o equipamento disponível na estação, desbloqueando-o através de código, acesso remoto ou cartão de acesso (que pode ser o bilhete único de transporte). Para a devolução, deposita-se o equipamento na doca vaga, travando-o. A forma de aquisição de passes é bastante variável no Brasil, podendo ser diária, semanal, mensal e anual, ou até mesmo descontando-se o valor do vale-transporte disponível no bilhete único.

Nesse modelo, é fundamental considerar a densidade urbana e o número de potenciais usuárias e usuários para a implementação e o dimensionamento do sistema, uma vez que as estações funcionam em rede, ou seja, dependem da dinâmica de retirada e devolução sistêmica.

Sistemas sem estações

Nesta modalidade, de livre circulação (dockless freefloating), são utilizados veículos (bicicletas, patinetes) com GPS embarcado e fechaduras integradas que podem ser desbloqueadas através de uma aplicação móvel (QR Code) conectada à internet, sem a necessidade de delimitação de pontos para a retirada e/ou devolução. Assim, permite-se começar ou terminar sua viagem em qualquer lugar onde o veículo foi localizado, dentro da área de operação, conhecida como “cercamento eletrônico”.

Inicialmente, pode-se obter uma redução no custo inicial para implementação do sistema, em função da ausência de necessidade de instalação de infraestrutura para as estações físicas. No entanto, poderá existir um maior custo operacional devido à complexidade logística para assegurar a disponibilidade de veículos (realocação) em toda a área de cobertura do serviço, de modo a aliviar a concentração excessiva dos veículos em destinos populares e reduzir possíveis conflitos na partilha do espaço público para estacionamento adequado dos veículos.

Sistemas híbridos

Este modelo surgiu como uma adaptação para otimizar a operação dos sistemas de micromobilidade compartilhada através da combinação das características dos sistemas com e sem estações. Tenta-se melhorar a capacidade de atendimento da demanda, com redução de custos de instalação de sistemas com estações físicas, e ainda minimizar os conflitos no uso do espaço público de forma desordenada, com a demarcação de pontos para retirada e devolução. Assim, é possível a melhor adequação às dimensões de espaços públicos e às áreas de estacionamento disponíveis, conhecidas como estações “virtuais”.

Glossário / Siglas

CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito

CROWD ECONOMY – Economia de compartilhamento

CTB – Código de Trânsito Brasileiro

DOCKBASED – Sistemas compartilhados com estações

DOCKLESS – Sistemas compartilhados sem estações

E-BIKES – Bicicletas elétricas

E-SCOOTERS – Patinetes elétricas

FREEFLOATING – Sistemas sem estação (flutuação livre)

GPS – Sistema de Posicionamento Global (Global Positioning System)

ITDP – Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento

ITF – Fórum de Transporte Internacional (International Transport Forum)

ITS – Sistema de Transporte Inteligente (Intelligent Transportation System)

GEOFENCE ZONE – Zona de Geocercas

NABSA – Associação Norte-Americana de Bicicletas Compartilhadas (North America Bike Sharing Association)

NACTO – Associação Nacional de Oficiais de Transporte Urbano (National Association of City Transportation Officials)

NUMO – Aliança da Nova Mobilidade Urbana (New Urban Mobility Alliance)

PBSCPublic Bike Sharing Company

QR CODE – Código de barras bidimensional (Quick Response Code)

RFID – Identificação por radiofrequência (Radio Frequency Identification)

TDICs – Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação

Guia Micromobilidade Compartilhada

Este relatório apresenta uma investigação completa sobre o panorama da micromobilidade pública no Brasil e no exterior. Trata-se de um trabalho de suma importância para gestores públicos e privados, e por se tratar de um trabalho sem paralelos no país, se torna uma referência nacional na conceituação e levantamento do quadro da micromobilidade.

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