Integração Física e Operacional

Conceito/Definições

A micromobilidade envolve vários modelos de serviço e meios de transporte, entre eles o compartilhamento de bicicletas e patinetes, disponibilizados em três formatos principais de operação: sistema baseado em estações, sistema sem doca (dockless) e sistema híbrido. Assim, a integração física varia também conforme essa característica de cada serviço, demandando diferentes arranjos espaciais para acolher os micromodais nos locais de maior potencial para a intermodalidade.

Discussão

Estudos apontam que os sistemas de micromobilidade são uma ferramenta importante para o acesso aos sistemas de transporte público de massa e, se bem integrados, as duas escalas modais são potencializadas, auxiliando na diminuição do uso de carros e táxis pelos seus usuários e numa maior integração de áreas metropolitanas e cidades mais afastadas. Pesquisa da cidade de Nova York aponta a diminuição do número de viagens de ônibus devido à instalação de sistemas de compartilhamento de micromodais, uma vez que este se tornou um deslocamento de baixo custo. A infraestrutura voltada para a micromobilidade tem baixo custo em comparação à de outros modos. Por isso, esse tipo de articulação, ainda que demande novos investimentos em infraestrutura, teria um impacto mais baixo para o orçamento público, ao mesmo tempo que ofereceria uma importante vantagem que é a ampliação do acesso ao transporte público ou coletivo.

Desde 2008, os serviços de compartilhamento estão presentes no Brasil e, com a recente adição de patinetes e bicicletas elétricas aos sistemas, ampliou-se a oferta de micromodos e também seu público potencial. Por exemplo, em São Paulo, pesquisas apontam que até 60% dos trajetos motorizados realizados poderiam ser feitos através de micromodais. Outro ponto a considerar é que as estações de transporte público estão distribuídas em pontos de grande demanda, o que facilita a intermodalidade a partir da inclusão dos micromodais. Apesar do enorme potencial, ainda é baixa a articulação entre os sistemas de transporte público e os micromodais existentes.

Melhores práticas

Na Europa, quem vem se destacando nesse cenário é Portugal, conhecido como um dos maiores fabricantes de bicicletas do continente. O país aproveita a proximidade da realização do maior congresso mundial sobre mobilidade por bicicleta (VeloCity 2021) na cidade de Lisboa para acelerar suas metas de promoção da micromobilidade. Segundo o Plano de Ação de Mobilidade Urbana Sustentável (PAMUS), estão entre suas diretrizes a diversificação da oferta desses serviços e a expansão da área de cobertura e da sua rede cicloviária.

Inaugurado em 2017 através de um projeto-piloto, com uma parceria entre as empresas Órbita-Siemense e operação da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL), o sistema híbrido de bicicletas compartilhadas (GIRA) foi a primeira experiência do continente de fácil conversão das bicicletas convencionais em elétricas e vice-versa. Atualmente, conta com uma frota de 1.410 bicicletas e 140 estações de acoplamento distribuídas em várias partes até o final de 2020 com objetivo de atingir uma área de cobertura que atenda mais de 32% da população da capital.

Sistema de compartilhamento de bicicletas convencionais e/ou elétricas de Lisboa – Fonte: Foto/Divulgação GIRA

Além do sistema de bicicletas compartilhadas, Lisboa conta com as patinetes elétricas, integrando-as aos demais sistemas visando ao aumento da eficiência energética no transporte urbano e à redução da poluição atmosférica e sonora. Com isso, a cidade aproxima-se dos objetivos traçados na agenda da ONU 2030 para os ODSs.

Pessoas usando patinete motorizada na Praça do Comércio, em Lisboa. Fonte

Em São Paulo, a Estação Bike 12h, na Cidade Tiradentes, se tornou uma opção para a intermodalidade naquele local. Trata-se de uma estação diferenciada dentro do já consolidado sistema Bike Sampa, que fica junto de um terminal de ônibus em um grande bairro da periferia paulistana. Essa estação apresenta diversos mecanismos de integração, tais como estacionar e retirar sua própria bicicleta, alugar uma bicicleta pelo período estendido de 12 horas e, também, usar o bilhete único.

Bicicletário da Estação Cidade Tiradentes. Fonte

No Rio de Janeiro, o sistema de bicicletas compartilhadas Bike Rio consolidou-se como opção para complementar os deslocamentos da cidade, especialmente na integração com o Metrô Rio nas zonas sul e central da cidade, com diversas docas próximas às estações de metrô. A atual administradora, a Tembici, lançou bicicletas elétricas no segundo semestre de 2020 de forma a fomentar ainda mais a intermodalidade com outros sistemas de transporte e incluir mais usuários no sistema, que está próximo às estações de metrô da zona sul e central   da cidade.

Bicicletas elétricas no Rio de Janeiro. Fonte

Outro exemplo recente em operação é o da empresa Grow (fusão das empresas Yellow e Grin), que na cidade de São Paulo explora duas modalidades, bicicletas e patinetes, especialmente na integração com a linha amarela do metrô. A empresa começou a oferecer um serviço de compartilhamento de bicicletas via aplicativo sem o uso de docas, o que não exige estações físicas para retirada e entrega. Em agosto de 2019, a empresa informou que 6,9 milhões de quilômetros haviam sido percorridos por usuários de São Paulo com a empresa Yellow, causando um grande decréscimo no uso de carros e na poluição causada pelos automóveis. Foram cerca de 4 mil os equipamentos disponibilizados pela empresa à capital paulista, atendendo 1,5 milhão de usuários em uma área de 76 km². Diante disso, observa-se um grande potencial para a intermodalidade com equipamentos Grow no novo modelo intermodal.

Veículos compartilhados da Grow (fusão das empresas Yellow e Grin) em São Paulo. Fonte

Indicadores/métricas de melhores práticas

  • Infraestrutura próxima. Deve existir infraestrutura para a micromobilidade (ciclovia, ciclofaixa, zonas 30) e também estações de compartilhamento, bicicletários/paraciclos e áreas de estacionamento próximas aos pontos de parada dos sistemas de transporte coletivo existentes.
  • Inclusão no sistema público de transporte. Trata-se da inserção dos sistemas de micromobilidade nos planos de mobilidade e transporte urbano.

Subdimensões

Guia Micromobilidade Compartilhada

Este relatório apresenta uma investigação completa sobre o panorama da micromobilidade pública no Brasil e no exterior. Trata-se de um trabalho de suma importância para gestores públicos e privados, e por se tratar de um trabalho sem paralelos no país, se torna uma referência nacional na conceituação e levantamento do quadro da micromobilidade.

Baixar em PDF