Operação e Manutenção

Conceito/Definições

Esta subdimensão refere-se a todos os processos e atividades que envolvem a fase de operação, manutenção e melhoria dos sistemas compartilhados de micromobilidade. Portanto, é nessa etapa que são obtidos os dados básicos para qualquer avaliação operacional, tática ou estratégica. Sua realização é a consequência de todo um processo de desenvolvimento e especificação de um sistema de avaliação (indicadores) que cobre diversos níveis de decisão, sistematizando as necessidades de informação de cada ator, os referenciais de interpretação e os dados necessários. Já a manutenção desses sistemas inclui as atividades de cuidado preventivo e o reparo de avarias e/ou substituições nos veículos e partes componentes do sistema para reduzir riscos e acidentes que possam causar danos a terceiros e resultar em problemas de responsabilidade civil.

Discussão

Os sistemas de compartilhamento de micromobilidade pressupõem a existência de operadores e de manutenção constante. Embora os índices de avaria e vandalismo sejam baixos na maior parte dos locais onde os sistemas são implementados, tal como nos Estados Unidos (Bike Share Business Plan, 2013), as operações de manutenção de elementos como freios, luzes, manoplas e pedais acabam por demandar a inspeção constante das bicicletas, que ficam em movimento a maior parte da sua vida útil. Além disso, há operações que podem ser feitas in loco, por exemplo, a calibragem de pneus, diminuindo as despesas de manutenção.

No Brasil, assim como nos outros países, a manutenção é um dos itens mais importantes para o sucesso do sistema, especialmente em relação à distribuição de bicicletas e patinetes para os públicos consumidores. Quanto a furtos e depredação, quando a operadora Yellow inaugurou o sistema de bicicletas sem estação na cidade de São Paulo, viu que os índices ficaram baixo do previsto, mostrando a viabilidade da operação nesse quesito (VENTURA, 2018). Um dos problemas de manutenção observado nos sistemas sem estação no Brasil foi a privatização do uso, ou seja, alguns clientes, buscando utilizar a bicicleta de maneira exclusiva, deixavam-na em áreas privadas, tais como garagens, que apareciam disponíveis no sistema.

Melhores práticas

Uma boa prática é a da Cidade do México, que, apesar de figurar entre as cidades com as piores condições de tráfego na América Latina, tem trabalhado para reduzir sua pegada de carbono através do compromisso com a promoção da mobilidade sustentável. A Zona Metropolitana do Vale do México (ZMVM), que abriga a Cidade do México e mais 60 cidades, está entre as maiores regiões metropolitanas do mundo, com 22 milhões de habitantes. A capital possui o maior sistema de bicicletas públicas compartilhadas da América Latina (ECOBICI, 2020). Em operação desde 2010, o sistema conta com 480 estações, mais de 6.800 bicicletas convencionais e 340 e-bikes, que iniciaram sua operação  em 2018. Já ultrapassou o marco de 300.000 usuárias e usuários, que se beneficiam desse serviço todos os dias dentro de uma área de 38 km2.

A fim de oferecer um melhor serviço aos cidadãos, o Sistema de Transporte Individual Ecobici foi implementado pelo Ministério do Meio Ambiente (Sedema) e possui operador privado (Clear Channel). O sistema otimizou sua plataforma de serviço digital em 2018, acelerando assim os procedimentos relacionados à qualidade na prestação de serviço, no acesso e na gestão eficiente da informação (coleta, armazenamento e gerenciamento de viagens). As políticas de dados abertos são o projeto-piloto MAR-Ecobici (ITDP México, 2017).

Esse projeto utiliza dados gerados pelo sistema de bicicletas públicas da Cidade do México para criar uma plataforma de análise e projeção da demanda que possa usado para reequilibrar o sistema de uma forma preditiva. Isso beneficia de forma tangível tanto o governo como os operadores e os usuários e usuárias. Esse exemplo tem o potencial de ser escalado para o transporte em massa, maximizando os benefícios para toda a cidade.

Centro de Controle Operacional do Sistemas ECOBICI de Bicicleta Compartilhada. Fonte: WRI México/divulgação

Já a operação da brasileira Yellow deve passar por um redesenho após alguns problemas operacionais e de manutenção. Além de o custo das corridas ser considerado alto pelos clientes e da expansão acelerada, que fez com que os sistemas de bicicletas e patinetes elétricas se difundissem rapidamente por 17 cidades, a difícil e cara manutenção dos equipamentos, ocasionada pelo excesso de componentes importados, contribuiu para o encerramento temporário das operações no Brasil. A empresa estuda criar uma fábrica de peças e componentes na Zona Franca de Manaus, o que é apontado como uma boa solução para os problemas de importação e custos das peças.

Bicicletas da Yellow no centro de estocagem da empresa em Curitiba. Fonte

Indicadores/métricas de melhores práticas

  • Custo médio operacional por viagem. Avaliação de custo-benefício em relação ao custo operacional do sistema, levando em conta os custos com logística e redistribuição dos veículos, em relação ao número total de viagens realizadas por dia/mês/ano por usuário/veículo.
  • Custo médio de manutenção por veículo. Diz respeito à avaliação de custo-benefício em relação ao custo de manutenção do veículo, levando em conta os custos com manutenção preventiva e a necessidade de reposição em função de avarias e/ou furtos por veículo em relação à taxa de utilização total de viagens do sistema por dia, mês e ano.
  • Taxa de ocorrência de acidente por viagem. Significa a verificação do número de acidentes por nível de gravidade ocorridos por viagem (por dia, mês e ano) em relação ao total de usuárias e usuários ativos do sistema dentro da área de cobertura do sistema e/ou número total de vítimas por ano dividido pelo número total de viagens do ano do sistema. Esses indicadores serão úteis para a verificação dos protocolos de segurança durante a utilização do sistema. Também apresentam correlação com a qualificação da infraestrutura viária para a redução de conflitos de circulação e moderação de tráfego.

Subdimensões

Guia Micromobilidade Compartilhada

Este relatório apresenta uma investigação completa sobre o panorama da micromobilidade pública no Brasil e no exterior. Trata-se de um trabalho de suma importância para gestores públicos e privados, e por se tratar de um trabalho sem paralelos no país, se torna uma referência nacional na conceituação e levantamento do quadro da micromobilidade.

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