Localização e Dimensionamento

Conceito/Definições

A localização diz respeito à escolha do recorte urbano considerado apto para receber os sistemas de micromobilidade. Deve-se considerar a demanda potencial que esses lugares apresentam, assim como a infraestrutura disponível para a instalação do sistema. Dessa forma, a densidade urbana é outro fator importante a ser considerado, uma vez que, para dimensionar os sistemas e os potenciais usuárias e usuários, é importante estimar a quantidade de pessoas que podem vir a utilizar os sistemas.

Discussão

Segundo a NACTO, composta por profissionais das 86 maiores cidades da América do Norte, a localização dos sistemas de micromobilidade deve privilegiar a conveniência e acessibilidade. Isso significa a localização de sistemas em áreas mais densamente povoadas, que permitam aos usuários e usuárias de transporte público e privado complementar ou até substituir a viagem com os equipamentos de micromobilidade. Outro ponto apontado é a segurança que o sistema terá em sua operação, além da sua viabilidade.

No Brasil, a delimitação da área de cobertura dos sistemas tem encontrado barreiras. Um dos pontos criticados é a falta de cobertura de sistemas de bicicletas compartilhadas nas periferias das grandes cidades, uma vez que elas se localizam majoritariamente nos centros urbanos. Outro ponto diz respeito à adaptação da infraestrutura urbana para receber os sistemas – muitas cidades no Brasil ainda contam com rede de infraestrutura cicloviária incipiente ou mesmo inexistente.

Melhores práticas

Uma boa prática é a da cidade de Chicago, nos Estados Unidos, que definiu o cercamento virtual do sistema compartilhado de patinetes elétricas de forma a privilegiar a maior parte da população da cidade. Assim, os sistemas localizaram-se na parte mais densa, que é a centralidade. A permissão é válida para toda a área com limite roxo (Figura 21). Para organizar o sistema e dar preferência para trabalhadores, a prefeitura criou duas áreas prioritárias (limite verde e amarelo). A cada manhã, cada uma deverá ter 25% das patinetes disponíveis para deslocamento para outras regiões.

Cercamento Virtual da cidade de Chicago (EUA). Fonte

O cercamento deve privilegiar também a manutenção. Por isso, é importante considerar, dentro da área de cobertura, a provisão de instalações para manutenção dos equipamentos, tais como reparos, limpeza e recarregamento ou troca de baterias.

Desenho esquemático de funcionamento de cercamento virtual para patinetes elétricas e manutenção das baterias. Fonte

No México, o sistema MIBICI de bicicletas compartilhadas, com estações fixas dispostas em rede nas centralidades urbanas mais importantes da cidade, foi projetado para interagir com outros sistemas de transporte e facilitar as viagens intermodais na Região Metropolitana de Guadalajara. São 31,5 km2 de área de cobertura do sistema que englobam três municípios (Guadalajara, Zapopan e Tlaquepaque) dessa região (IKI ALLIANCE, 2019). O sistema resulta de um esforço coordenado com entidades do Poder Executivo, por meio do planejamento integrado de políticas públicas orientadas à mobilidade sustentável e vinculado ao Plano Estadual de Desenvolvimento Territorial (PED JALISCO, 2013-2033). Após sete anos do seu lançamento, em 2014, o MIBICI é o segundo maior sistema do México, sexto maior na América Latina e 17° no mundo, com 274 estações e quase 2,5 mil bicicletas em operação (WRI MÉXICO, 2019).

Sistema MIBICI com estações fixas com escala Metropolitana. Fonte: MIBICI/divulgação

No Brasil, a experiência da provisão de cercamento virtual para bicicletas sem estação não foi bem-sucedida na primeira incursão na cidade de São Paulo. Com previsão de aumento para até 100 mil bicicletas nas primeiras estimativas, as operadoras aos poucos foram deixando de executar os sistemas durante os anos de 2019 e 2020. Para o presidente da Tembici, “infelizmente, no Brasil, não há muito espaço de calçada e áreas públicas onde você pode colocar várias bikes. É complicado. Mas, quando as cidades criam regras, ajuda o serviço a ter mais sucesso” (BARIFOUSE, 2018).

Indicadores/métricas de melhores práticas

  • Área de cobertura do sistema. Parâmetros claros para definição do raio de abrangência de funcionamento do sistema de micromobilidade compartilhada.
  • Oferta e capacidade. Definição prévia da capacidade de atendimento da demanda pelo sistema de micromobilidade e também de um plano de expansão.
  • Densidade urbana. Quantidade de habitantes por área urbanizada. Quanto maior esse número, mais propensa estará a cidade a alcançar maior número de usuários dos sistemas de micromobilidade.
  • Adaptação e/ou qualificação da infraestrutura e do mobiliário urbano. Provisão de infraestrutura urbana compatível – como ciclovias – e mobiliário que permitam paradas e estacionamentos e que protejam quem usa equipamentos de micromobilidade no tráfego motorizado.
  • Posição em relação a outras infraestruturas de transporte.Estruturação do sistema de micromobilidade em paralelo aos sistemas de transporte já consolidados.
  • Quantidade de equipamentos por habitante. Quantificação de equipamentos por habitante da cidade onde o sistema será implantado. Importante considerar também a demanda potencial  prevista e a necessidade de recomposição da frota operacional em casos de manutenção periódica e/ou de avaria dos veículos.

Subdimensões

Guia Micromobilidade Compartilhada

Este relatório apresenta uma investigação completa sobre o panorama da micromobilidade pública no Brasil e no exterior. Trata-se de um trabalho de suma importância para gestores públicos e privados, e por se tratar de um trabalho sem paralelos no país, se torna uma referência nacional na conceituação e levantamento do quadro da micromobilidade.

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