O tema da equidade e diversidade diz respeito à implementação de estratégias de redução das barreiras físicas e financeiras ao uso dos sistemas de micromobilidade. Refere-se, também, à ampliação das infraestruturas no espaço urbano com o propósito de tornar mais conveniente esse serviço a públicos socialmente mais sensíveis, tanto em termos de renda como de gênero e raça/cor. Para além das infraestruturas em si, contempla políticas integradas de inclusão voltadas à segurança viária, métodos alternativos de pagamento e/ou desenvolvimento de soluções com base na necessidade de viagem de determinados públicos-alvo.
Equidade e Diversidade
Conceito/Definições
Discussão
Promoção da equidade e diversidade de acesso implica fazer jus aos veículos de micromobilidade como meios de transporte potencialmente transformadores em proporcionar autonomia de deslocamento à população a partir de práticas que ampliem a representatividade do uso desses sistemas. Hoje, há o desafio de transcender políticas segregadoras e incluir diversos públicos nos sistemas. No Citibike, de Nova York, as mulheres correspondem a apenas 33% do público usuário. Os sistemas Relay, de Atlanta, e Indego, da Filadélfia, promoveram políticas integradas de empoderamento de líderes comunitários que ajudaram a introduzir e popularizar os sistemas de micromobilidade em comunidades de risco ou de baixa renda.
No Brasil, essa configuração espacial de distribuição dos sistemas tende a ser reproduzida nas metrópoles nacionais. Devido às desigualdades socioespaciais ainda mais acentuadas na América Latina, isso impede que populações de baixa renda, por exemplo, tradicionalmente carentes de acesso à mobilidade (recursos escassos, poucas opções de infraestrutura de transporte etc.) usufruam desses sistemas. E não se trata apenas da proximidade espacial com as infraestruturas, mas também dos meios de acesso a essas infraestruturas, pois a utilização de smartphone ou o porte de cartão de crédito não fazem parte necessariamente do dia a dia dessa população. Tarifas não personalizadas também podem ser incongruentes com a realidade de populações de baixa renda.
Melhores práticas
Entre as melhores práticas, o projeto Pedala Queimados, implementado em Queimados, na região metropolitana do Rio de Janeiro, visa capacitar jovens em situação de vulnerabilidade em mecânica de bicicleta. A intenção é coletar bicicletas abandonadas em condomínios do Rio, repará-las em sala de aula e disponibilizá-las em sistema de compartilhamento autogerido para os moradores do Conjunto Habitacional Valdariosa, localizado nesse município.
Sistema Pedala Queimados. Fonte: Divulgação
Reconhecendo a importância de empresas colaborarem com a sociedade para lidar com os desafios trazidos pela pandemia de Covid-19, deflagrada em março de 2020, a Tembici, empresa de micromobilidade, e a Catho, site de vagas de empregos, lançaram o projeto Bike Pra Entrevista. O objetivo é garantir transporte individual com modal seguro e gratuito para profissionais que estejam buscando uma nova inserção no mercado de trabalho num momento em que o distanciamento social ainda precisa ser praticado na cidade de São Paulo. Os candidatos recebem gratuidade no plano diário, com duração de 45 minutos por viagem, para ir e vir das entrevistas.
Campanha “Bike Pra Entrevista”, promovida pela Tembici e Catho. Fonte: Divulgação
Campanhas de empoderamento do público feminino na utilização de bicicletas compartilhadas têm sido realizadas periodicamente (especialmente em datas comemorativas) em diversos lugares do mundo. Um dos exemplos mais conhecidos é o do Citibike, em Nova York, com o Women’s Bike Month. Nos Estados Unidos, a campanha acontece anualmente no mês de outubro. Em 2020, como estratégia integrada de promover tanto as mulheres da cidade de Nova York como também mulheres em condição de vulnerabilidade social em todo o mundo, a cada nova pessoa que se cadastrou no sistema, o Citibike destinou 1 dólar ao programa Girl Up’s SchoolCycle. Lançado em 2014, SchoolCycle é uma campanha para fornecer bicicletas a meninas em todo o mundo para ajudá-las a ter acesso à escola e, especialmente, a permanecer na escola. Por meio dessa campanha, o Girl Up ajudar a eliminar um dos maiores obstáculos que mantêm as meninas fora da escola: a distância. O Girl Up forneceu 1.550 bicicletas para meninas no Malaui e 250 para meninas na Guatemala, por exemplov.
Women’s Bike Month, do Citibike, em parceria com Girl Up’s School Cycle. Fonte: Reprodução
Indicadores/métricas de melhores práticas
- Percentual de mulheres usuárias do sistema. Um bom indicador é que essa porcentagem se iguale ao percentual de mulheres da sociedade.
- Percentual de minorias de raça/cor usuárias do sistema. Um bom indicador é que a representatividade das minorias e das raças seja igual à observada na sociedade.
- Presença do sistema em áreas habitadas por grupos de menor renda.
Guia Micromobilidade Compartilhada
Este relatório apresenta uma investigação completa sobre o panorama da micromobilidade pública no Brasil e no exterior. Trata-se de um trabalho de suma importância para gestores públicos e privados, e por se tratar de um trabalho sem paralelos no país, se torna uma referência nacional na conceituação e levantamento do quadro da micromobilidade.