Dados e Monitoramento

Conceito/Definições

As informações geradas por atividades, eventos ou transações são registradas, fornecidas e monitoradas mediante dispositivos ou serviços de mobilidade habilitados digitalmente. Esses dados são frequentemente registrados como uma série de pontos com latitude e longitude coletados em intervalos regulares por dispositivos como smartphones, veículos de micromobilidade compartilhados ou sistemas de navegação baseados em aplicativos (por exemplo, Waze e Google Maps). Os dados relacionados à mobilidade geralmente atribuem tempo e localização a cada ponto, assim como velocidade de viagem, de forma a produzir uma base de dados robusta sobre a mobilidade urbana.

Os dados gerados por empresas privadas de serviços de mobilidade que operam no espaço público devem estar disponíveis aos municípios de forma transparente para garantir que os planejadores e formuladores de políticas públicas tenham as ferramentas completas de que precisam para construir cidades mais sustentáveis, equitativas, acessíveis e vibrantes.

Discussão

O planejamento urbano na era digital pode e deve usufruir da quantidade de dados gerados pelas novas tecnologias de transporte, que contêm informações vitais para o planejamento de políticas, regulamentação e supervisão de mobilidade. Existe uma tensão entre governos e empresas privadas de mobilidade e serviços que operam no domínio público a respeito do acesso à informação gerada. Muitas empresas têm interesse financeiro em limitar o acesso aos dados que seus serviços geram, contrariando uma lógica de contrapartida social. Ao mesmo tempo, a rápida adoção desses serviços e seu impacto na rua e em seus usuários significa que as cidades precisam de acesso a dados sobre como seus veículos estão operando.

Assim, a exigência do acesso a dados de serviços de mobilidade que operam na faixa de domínio público deve se tornar um requisito padrão para operar no domínio público e, assim, subsidiar tomadas de decisão e políticas informadas. Outro aspecto importante é o uso da autoridade para emitir e fazer cumprir acordos contratuais que orientam as ações do setor privado e protegem o interesse público. As cidades devem se esforçar para selecionar fornecedores que coletam, gerenciam e compartilham dados de uma maneira que se alinhe às políticas de privacidade da cidade. Sempre que possível, devem reforçar os objetivos das políticas por meio da aplicação rigorosa dos termos contratuais.

Ao estabelecer os princípios para o gerenciamento e monitoramento de dados de mobilidade, as cidades podem ajudar a formar um mercado de mobilidade justo e robusto e proteger a privacidade individual e do cliente. A criação de uma base de dados monitorada, somada a uma análise descritiva, diagnóstica, preditiva e prescritiva, também permite uma melhor elaboração de cenários e, consequentemente, a elevação da eficiência do serviço de mobilidade a partir do comportamento do usuário.

Recentemente, no Rio de Janeiro, foi implementado em caráter piloto um modelo de monitoramento dos deslocamentos urbanos a partir de dados fornecidos pelas operadoras de celular (SILVA, s.d.). O modelo foi testado na via expressa Transoeste, que opera ônibus articulados (Bus Rapid Transit – BRT) circulando entre uma centralidade e bairros periféricos, de modo a avaliar o impacto das mudanças de comportamento de viagem através da incorporação de uma nova infraestrutura de transporte de massa.

Apesar do enfoque na mobilidade urbana, a iniciativa é oriunda de uma pesquisa da área de saúde que buscava identificar os fluxos de circulação de doenças na cidade, a exemplo da dengue, o que demonstra o potencial da interdisciplinaridade para medidas de monitoramento. A matriz com uso de dados de celular permitiu dois tipos de análise: de eventos e mobilidade. No primeiro caso, foi possível estimar o número de pessoas concentradas num local (evento) e sua procedência. O segundo tipo de análise foi orientado diretamente para decisões de engenharia de transportes. Os dados de celular permitem análises mais rápidas e precisas de mobilidade urbana em comparação a métodos tradicionais, como realização de entrevistas com a população, que são caros, trabalhosos, morosos e de difícil previsibilidade.

Esse tipo de monitoramento mostrou seu potencial para melhorar as análises de mobilidade no Brasil e abre caminhos para o amadurecimento do próprio monitoramento de viagens realizadas no âmbito da micromobilidade. Indiscutivelmente, o monitoramento de dados pode permitir uma leitura mais acurada das necessidades de deslocamento e, desse modo, promover maiores insumos para tomadas de decisão orientadas para a justiça social.

Melhores práticas

São exemplos de melhores práticas o desenvolvimento ou a atualização de planos estratégicos para gerenciar a mobilidade na era digital a fim de abordar o gerenciamento de dados, o treinamento e a cobertura de seguro adequados e procedimentos de proteção. Outro exemplo é a coordenação para criar ou adotar formatos de dados abertos e padronizados que nivelam o campo de atuação entre empresas e fornecedores de transporte, tornando as expectativas sobre o compartilhamento e gerenciamento de informações mais consistentes e previsíveis nas cidades.

A Plataforma Micromobilidade Brasil, lançada no primeiro semestre de 2020, mapeou os sistemas de micromobilidade públicos existentes no país em 2019. Coordenada pelo Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB/UFRJ), com apoio do ICS e parceria com o IEMA, essa é uma iniciativa inédita de união sinérgica entre academia, setor privado e sociedade civil para promoção da transparência de dados sobre os sistemas de micromobilidade em operação no país. A plataforma reúne e trata dados secundários sobre os sistemas, fornecidos por três operadoras atuantes no país, com atualização semestral, de modo a monitorar a evolução dos sistemas e sua expansão no país. Ao todo, são monitorados sistemas de 26 cidades brasileiras de diversos tamanhos. Os principais dados disponibilizados ao público são: quilômetros percorridos por dia, número de bicicletas, número de viagens diárias, emissões evitadas, número de usuárias e usuários total e por sistema, participação de usuárias e usuários por gênero e faixa etária.

Plataforma Micromobilidade Brasil. Fonte

Outra prática importante é a expansão da capacidade interna das instituições para analisar os dados que recebem e confirmar sua qualidade. Um exemplo de iniciativa nesse sentido é a plataforma Mobilidados, realizada pelo ITDP Brasil com apoio do ICS.

A plataforma foi criada com o objetivo de promover o uso de informações confiáveis nos processos de elaboração, monitoramento e avaliação de políticas de mobilidade e desenvolvimento urbano. Os dados são coletados de fontes secundárias e processados para mensuração de qualidade e organização para fins de divulgação. Além de indicadores para capitais e regiões metropolitanas brasileiras, a plataforma oferece acesso a todos os dados brutos utilizados e descreve as metodologias de apuração de cada indicador. São indicadores: tempo médio de deslocamento, percentual de pessoas que gastam mais de uma hora, percentual de domicílios com calçadas, percentual de domicílios com rampas para cadeirantes, emissão de CO2 per capita, emissão de material particulado per capita, taxa de mortalidade e taxa de motorização.

Plataforma Mobilidados. Fonte

Por último, há a ferramenta Mobility Data Specification (MDS), desenvolvida pela cidade de Los Angeles, em 2018, que é um passo em direção a um padrão unificado. O MDS, em português “especificação de dados de mobilidade”, é um padrão desenvolvido para a troca de dados entre operadoras de mobilidade e cidades ou outros reguladores. Composto por várias APIs (principalmente Provedor, Agência e Política), o MDS permite que as agências analisem dados de operadoras de mobilidade em um formato padronizado, bem como implementem regulamentações digitalmente. Embora atualmente focado em patinetes sem doca (scooters dockless), bicicletas e carros compartilhados, o MDS tem capacidade de se expandir para outros meios de transporte e serviços.

Diagrama de provisão e processamento de dados realizados pelo MDS. Fonte: Divulgação

Indicadores/métricas de melhores práticas

  • Acesso facilitado e livre aos dados do sistema. Um bom indicador do quanto um sistema está promovendo a transparência de dados é disponibilizar acesso facilitado e livre aos dados do sistema através de plataformas, websites, relatórios etc.

Guia Micromobilidade Compartilhada

Este relatório apresenta uma investigação completa sobre o panorama da micromobilidade pública no Brasil e no exterior. Trata-se de um trabalho de suma importância para gestores públicos e privados, e por se tratar de um trabalho sem paralelos no país, se torna uma referência nacional na conceituação e levantamento do quadro da micromobilidade.

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